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Guaxupé, 25 de novembro de 2025


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Mulheres trans também têm próstata: médico reforça cuidados e prevenção durante o Novembro Azul

Publicado quarta, 19 de novembro de 2025





O Novembro Azul, campanha internacional de conscientização sobre o câncer de próstata, começou no dia 1º de novembro e segue até o dia 30, com o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata celebrado em 17 de novembro.
Neste período, profissionais da saúde reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dessa doença, que é o segundo tipo de câncer mais comum entre pessoas com próstata.

Mas um grupo ainda pouco lembrado nessa conversa são as mulheres trans, que, mesmo após a transição, mantêm a próstata e também podem desenvolver doenças prostáticas, incluindo o câncer. “É fundamental que o Novembro Azul também contemple as mulheres trans. A próstata não é retirada durante a cirurgia de afirmação de gênero. Por isso, os cuidados e os exames preventivos continuam necessários”, explica o Dr. José Carlos Martins Jr., cirurgião e fundador da Transgender Center Brazil, referência nacional em cirurgia e saúde transgênero.

Pesquisas internacionais, como as publicadas em The Lancet e JAMA Network Open, indicam que o risco de câncer de próstata em mulheres trans é menor do que em homens cisgênero, especialmente em quem faz uso contínuo de hormônios feminilizantes e bloqueadores de testosterona.
Ainda assim, o risco não é zero. “A terapia hormonal reduz a atividade da próstata, mas não elimina completamente a possibilidade de surgirem alterações ou tumores. O problema é que muitas vezes o exame de PSA fica subestimado — os valores caem muito e podem mascarar o diagnóstico”, alerta o Dr. Martins Jr.

Ele recomenda que todas as pessoas com próstata façam acompanhamento regular, especialmente após os 50 anos, ou antes, se houver histórico familiar.

Como fazer a prevenção

O rastreamento do câncer de próstata em mulheres trans segue os mesmos princípios aplicados aos homens cis, com algumas adaptações. O exame de PSA deve ter parâmetros ajustados, já que o uso de hormônios feminilizantes pode reduzir seus níveis. O exame físico é feito pelo toque vaginal, como se fosse um exame ginecológico de rotina, o que facilita a adesão das pacientes. Em caso de sintomas ou alterações, o médico pode indicar exames de imagem complementares. O acompanhamento regular com um urologista experiente em saúde trans é essencial para garantir prevenção segura e acolhedora. “Cuidar da próstata é um gesto de amor-próprio e respeito à própria história. A prevenção faz parte de viver a transição de forma plena e saudável”, reforça o Dr. Martins.

A psicóloga Priscila H.S. Martins, cofundadora da Transgender Center Brazil, lembra que o tabu e a vergonha ainda afastam muitas mulheres trans das consultas urológicas. “É muito comum que mulheres trans evitem falar sobre a próstata por medo de discriminação. Muitas acreditam que esse cuidado não é mais necessário após a cirurgia. Nosso papel, enquanto equipe, é acolher e informar sem julgamento. O corpo trans também precisa e merece atenção integral.”

Priscila reforça que campanhas como o Novembro Azul devem ser inclusivas, representando também pessoas trans e não binárias com próstata. “A prevenção salva vidas, e a informação é o primeiro passo. A campanha precisa falar com todos os corpos.”

Protocolos e recomendações científicas

As diretrizes da WPATH (World Professional Association for Transgender Health) e da American Urological Association reconhecem a necessidade de rastrear doenças prostáticas em mulheres trans, ajustando as estratégias de prevenção de acordo com o uso de hormônios e o histórico clínico.

A Transgender Center Brazil adota protocolos adaptados para o acompanhamento da saúde prostática em mulheres trans, priorizando a prevenção e o cuidado integral. Entre as medidas adotadas estão o monitoramento anual dos níveis de PSA, a realização de exames de imagem conforme a necessidade clínica, e a avaliação conjunta das áreas psicológica e endocrinológica, garantindo uma visão ampla do bem-estar físico e emocional das pacientes. Além disso, a clínica investe em educação em saúde, orientando sobre sinais de alerta, como dor pélvica, dificuldade para urinar e alterações hormonais, incentivando a busca precoce por atendimento médico especializado.

Para o Dr. Martins, o maior desafio ainda é romper o silêncio e a desinformação que cercam o tema. “Quando se fala em câncer de próstata, ainda há uma visão restrita ao homem cis. “É hora de atualizar esse discurso e lembrar que o Novembro Azul também é para todas as pessoas com próstata — mulheres trans e pessoas não binárias. O corpo muda, mas o cuidado continua essencial.”

Sobre o Dr. José Carlos Martins Jr.

CRM/SP 161421 – CRM/SC 18281 – CRO/SC 7549

Dr. José Carlos Martins Jr. é médico e cirurgião plástico, também graduado em Odontologia. Possui pós-graduação em Cirurgia Bucomaxilofacial, Cirurgia Geral, Cirurgia Plástica e Cirurgia Plástica Facial. Foi fellow bolsista em Cirurgia Reconstrutora pelo University Hospital of Basel (Suíça), é membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica (CBCP) e da World Professional Association for Transgender Health (WPATH).
É autor do livro Transgêneros – orientações médicas para uma transição segura e fundador da Transgender Center Brazil, referência nacional no atendimento humanizado e multidisciplinar à população trans.




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